sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O ROBÔ (por Gabriel Cardoso, estudante do 8º ano)

Certa vez, havia um casal simples que morava em uma pequena casa sem o menor conforto, muitas vezes até mesmo passavam dificuldades, mas havia um amor incondicional e exemplar, compartilhavam de uma vida feliz juntos, um puro amor. Desse amor, gerou-se um fruto: um menino que foi recebido com muita alegria e criado com muito afeto e companhia. Por mais que seus pais não pudessem lhe dar conforto, lhe dava o mais importante, amor.
Já por volta de seus quinze anos, esse menino vivia reclamando de sua condição financeira e falta de conforto e certa vez jurou para si mesmo que seria rico e daria o de melhor para sua família. Quando se mantivesse estável iria aproveitar a vida.
E assim se fez. Ele tinha uma habilidade estúpida para o comércio. Era um grande negociador. Montou um pequeno supermercado que logo cresceu e em alguns anos ele já possuía uma grande rede espalhados por todo o país, virou um homem rico e ocupado, vivia freqüentando festas da “alta sociedade” e foi numa dessas festas que ele conheceu a mulher de sua vida, alta, um corpo sadio e de beleza natural, parecia não ser tão fútil quantos as outras mulheres que ele conhecera, ela impunha um ar de inteligência e por ela, ele se apaixonou.
Depois de se conhecerem melhor, namoraram e enfim casaram, tiveram dois filhos, uma menina e um menino.
Parecia que o sonho desse homem estava se realizando. Ele já tinha dinheiro, família, bastava agora aproveitar a vida que ele lutou para conseguir.
Mas havia um problema: ele nunca parou de trabalhar. A cada dia queria ter mais dinheiro, e mais e mais, queria consumir mais e até mesmo dar coisas melhores para os filhos, mas nunca estava presente em casa, nunca mais saiu com a mulher ou com os filhos, não aproveitava mais a vida, não fazia o que queria.
Ele havia se tornado um robô alienado e controlado pela praga do capitalismo, ele não se sentia humano se não consumisse, se não tivesse dinheiro. Agia apenas de acordo com os seus negócios e era só com isso que se importava; era uma marionete.
Até que certo dia ao voltar para casa, encontrou um bilhete em cima da mesa da cozinha, era de sua mulher, que havia ido embora com seus filhos sem dizer o destino. No bilhete, ela dizia que a situação estava insuportável e nem mesmos seus própios filhos estavam agüentando. Essas palavras tocaram no fundo de sua alma e ele rapidamente, como se despertasse de um transe voltou a si, olhou para os lados, começou a chorar e vira que nada tinha conquistado na realidade. Aqueles móveis, eletrodomésticos e aquele mundo de dinheiro é que o haviam conquistado e controlado. Ele começou a se desesperar e a sentir vertigens. Começou a perceber que passara toda a sua vida sem ser ele mesmo, que vivia controlado pelo capital.
Levantou-se, correu até o seu quarto, abriu a porta do guarda-roupa e de lá tirou um revolver, neste momento lembrou-se de sua infância e de seus pais, que nada lhe deram de conforto, lembrou de sua mulher que tanto amava e que o compreendeu por boa parte de sua vida e, por ultimo, lembrou-se dos seus filhos e seus rostos que refletiam inocência.
Ele não iria agüentar viver um resto de vida, que na realidade nem foi vivida por ele mesmo, confiava na morte como um descanso daquele turbilhão que havia subido a sua cabeça, ou quem sabe, com a morte, poderia voltar em outra vida e concertar o erro que cometeu, mas estava muito cansado para pensar nisso, apontou e disparou a arma contra sua própria cabeça, em seguida, ecoou um agudo e estridente som metálico, nada aconteceu, ele disparou novamente e mais uma vez e mais uma vez, os tiros eram seguidos desse mesmo barulho. As balas emitiam um som como o de uma moeda rolando no chão, sem nem sequer conseguiu raciocinar. Jogou-se da janela de seu apartamento e ao cair no chão, um barulho de uma lata amassada soou.
O povo aglomerou-se ao redor daquele homem que não era homem, daquela lata amassada programada pelo capital, daquele ser que nem ao menos era ser, que nem sequer pôde levar o tenebroso e relaxante beijo da morte, jamais poderia partir para eterno descanso.
Ele levantou-se e vagou, vagou e vagou sem chorar, não o podia mais.



Um comentário:

BRUNA MARIA disse...

Incrivel cabrio!! vc é 10!!

beijos - BRUNA MARIA